🎮Nintendo e a Nova Escola de Game Design: Revolução ou Retorno às Origens?
Exploramos como os jogos mais recentes da Nintendo, como Breath of the Wild e Super Mario Odyssey, moldam uma filosofia que combina liberdade, exploração e acessibilidade. Entenda se essa é realmente uma nova fórmula ou o resgate da visão original de Shigeru Miyamoto.
NetoJacy
8/10/202521 min read


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Nintendo e a “Nova Escola” de Game Design: revolução ou resgate da essência original?
Durante décadas, a Nintendo construiu sua reputação como uma das empresas mais criativas e influentes da história dos videogames. A cada geração, ela parecia encontrar um novo caminho para surpreender seus jogadores, sempre mantendo um equilíbrio delicado entre tradição e inovação. Mas, nos últimos anos, algo curioso aconteceu: uma série de títulos lançados pela própria Nintendo — sem envolvimento direto de estúdios externos — começou a apresentar um conjunto de elementos tão consistentes que fãs e analistas passaram a se perguntar se estaríamos diante de uma “nova fórmula Nintendo”.
Jogos como The Legend of Zelda: Breath of the Wild, Tears of the Kingdom, Super Mario Odyssey, Pikmin 4 e o recente Donkey Kong Bananza compartilham uma identidade de design muito clara, ainda que suas mecânicas e gêneros sejam diferentes. Essa identidade envolve liberdade de exploração, momentos de contemplação, recompensas pela curiosidade e uma estrutura que combina áreas amplas e abertas com desafios concentrados e opcionais.
Mas a grande questão é: estamos mesmo diante de uma nova escola de design ou apenas testemunhando a concretização de uma visão antiga de Shigeru Miyamoto, agora plenamente viável graças à tecnologia moderna?
1. Contexto Histórico: de Miyamoto ao presente
Para entender a discussão, precisamos voltar ao fim dos anos 70 e início dos 80, quando Shigeru Miyamoto, ainda sem experiência como desenvolvedor de jogos, foi contratado pela Nintendo. Na época, ele não era programador, mas sim um designer de brinquedos — alguém com olhar voltado para a criatividade e para a interação lúdica. Sua entrada no universo dos games foi quase acidental, mas rapidamente se tornou um divisor de águas para a indústria.
Desde seus primeiros trabalhos — Donkey Kong (1981), Super Mario Bros. (1985) e The Legend of Zelda (1986) —, Miyamoto demonstrava interesse em criar experiências que funcionassem mais como “brinquedos interativos” do que como desafios lineares e fechados. Em uma entrevista de 1989, ele afirmou que não queria fazer com que o jogador fosse apenas “um fantoche nas mãos do criador”, seguindo um roteiro rígido. Para ele, a graça estava em oferecer liberdade para explorar, experimentar e brincar dentro do mundo virtual.
O problema é que, nas décadas passadas, as limitações técnicas impediam que essa filosofia se manifestasse em todo o seu potencial. Jogos de NES e SNES dependiam de design linear e fases bem definidas, porque não havia como criar mundos amplos e interativos com a riqueza que Miyamoto imaginava.
Mesmo assim, a essência estava ali. The Legend of Zelda original já trazia um mundo aberto para os padrões da época, com masmorras (dungeons) que funcionavam como “atrações” dentro de um parque maior. Essa comparação, aliás, não é casual: Miyamoto já descreveu sua visão como a de criar um “parque de diversões” digital — um espaço vibrante, repleto de pequenas descobertas, onde o jogador decide a ordem e a intensidade da própria jornada.
Avançando para a era moderna, vemos que essa visão começou a se concretizar de maneira mais completa a partir de Breath of the Wild (2017) e Super Mario Odyssey (2017). Ambos os jogos abandonaram estruturas rígidas para adotar áreas amplas, interatividade orgânica e recompensas espalhadas que valorizam a curiosidade.
Agora, títulos como Pikmin 4 e Donkey Kong Bananza seguem essa mesma lógica, o que levanta a hipótese de que a Nintendo não apenas consolidou essa abordagem como passou a aplicá-la sistematicamente em suas principais franquias.
Linha do Tempo: Evolução do Game Design de Miyamoto (1986 → Switch 2)
Linha do tempo horizontal em 16:9 com marcos visuais de Zelda (NES), Ocarina of Time, Breath of the Wild, Super Mario Odyssey, Pikmin 4 e Donkey Kong Bananza; tipografia limpa, ícones por jogo.
2. Elementos-Chave da Nova Escola Nintendo
Ao observar Breath of the Wild, Tears of the Kingdom, Super Mario Odyssey, Pikmin 4 e Donkey Kong Bananza, é impossível não notar que todos compartilham uma filosofia de design que vai além do gênero ou da temática. Esses elementos não estão apenas na superfície — como gráficos, enredo ou controles —, mas profundamente enraizados na estrutura do gameplay.
A seguir, destrinchamos os principais pilares dessa chamada “nova escola” de design.
2.1 Liberdade e exploração como motores do jogo
Um dos traços mais evidentes é a liberdade. Seja em um mundo completamente aberto, como em Breath of the Wild, ou em “fases abertas”, como Super Mario Odyssey e Donkey Kong Bananza, o jogador raramente se vê preso a um caminho único e linear.
Essa abordagem cria algo que chamo de “navegação criativa”: você tem um objetivo claro — chegar a um ponto, coletar algo, derrotar um inimigo —, mas o trajeto é flexível. O jogo não pune quem decide sair da rota e, na verdade, recompensa esses desvios com colecionáveis, segredos e interações inesperadas.
Nos Donkey Kong Country clássicos ou no Super Mario 3D World, o desafio era atravessar um percurso pré-determinado, com início e fim bem definidos. Agora, o “fim” é apenas um ponto de interesse — e tudo que acontece antes dele é igualmente importante para a experiência.
2.2 Desvios intencionais e “diversão paralela”
Na nova filosofia, as distrações não são acidentais: elas são planejadas. Designers constroem os cenários de forma que curiosidades chamem a atenção do jogador — um objeto em local inacessível, um caminho lateral misterioso, um detalhe visual que convida à exploração.
Em Odyssey, isso se traduz nas luas escondidas em locais improváveis; em Bananza, nas recompensas por destruir elementos do cenário; e em Breath of the Wild, nos Koroks, que muitas vezes surgem como pequenas piadas ou desafios ambientais.
A mensagem é clara: a exploração é um fim em si mesma. Não é preciso “estar avançando” para se divertir.
2.3 Redução da pressão e estímulo à contemplação
Outra característica marcante é o ritmo mais calmo entre os picos de desafio. Ao contrário de jogos como Elden Ring ou Xenoblade Chronicles X, onde o perigo pode surgir a qualquer momento, a Nintendo cria áreas amplas onde o jogador se sente seguro para experimentar.
Isso não significa ausência de desafios — mas eles são marcados visualmente, quase como portais que o jogador escolhe quando enfrentar. No Zelda, isso acontece com os Shrines e Dungeons; em Pikmin 4, com as cavernas e desafios Dandori; e em Bananza, com as fases bônus.
Essa abordagem transforma a exploração em algo prazeroso e sem ansiedade, permitindo que o jogador aprecie cenários, mecânicas e até pequenos detalhes artísticos sem sentir que está “perdendo tempo”.
2.4 Portas para desafios e controle do ritmo
Essas “portas” — entradas que levam a um desafio concentrado e mais intenso — funcionam como válvulas de controle no fluxo do jogo. Elas dão ao jogador a liberdade de escolher quando acelerar o ritmo, sem que a estrutura geral seja prejudicada.
Na prática, isso também serve para equilibrar a experiência entre diferentes tipos de público: jogadores mais casuais podem simplesmente explorar e se divertir no mundo aberto, enquanto os mais competitivos podem buscar essas áreas para testar suas habilidades.
É um design que descentraliza a progressão: não é mais preciso passar por uma sequência rígida de obstáculos para chegar ao final.
2.5 Recompensa pela experimentação
A Nintendo não apenas permite que o jogador experimente soluções criativas — ela antecipa e premia essas iniciativas.
Um exemplo claro está em Odyssey: jogadores podem usar o chapéu Cappy de formas não previstas no tutorial para alcançar áreas improváveis. Muitas vezes, esses locais escondem moedas ou até luas, como se os designers estivessem dizendo: “Sim, sabíamos que você tentaria isso — parabéns!”.
Esse tipo de feedback positivo cria uma sensação de cumplicidade entre jogador e desenvolvedor, algo raro e poderoso no game design.
Tabela: Design Clássico Nintendo vs Nova Escola Nintendo
Tabela/diagrama horizontal (16:9) comparando estrutura, exploração, ritmo, pressão, desafios, recompensas, acessibilidade e exemplos de títulos; layout com duas colunas (azul para “Clássico”, verde para “Nova Escola”).
3. Contraste e Ritmo no Game Design
Se há um elemento que diferencia profundamente a chamada “nova escola” da Nintendo em relação a outros modelos de design, é a gestão consciente do contraste. Nos jogos que seguem essa filosofia, a alternância entre tranquilidade e desafio não é um subproduto — ela é planejada e fundamental para o ritmo da experiência.
3.1 O valor do silêncio
Em títulos como Breath of the Wild e Tears of the Kingdom, é comum passar longos períodos explorando planícies, montanhas e vilarejos sem encontrar inimigos perigosos. Esses trechos não são “vazios” por acaso — eles cumprem dois papéis estratégicos:
Construir imersão: a ausência de ameaças imediatas permite que o jogador observe e aprecie o mundo, sentindo-se parte dele.
Criar expectativa: a calma faz com que, quando o perigo finalmente surge, ele seja sentido como um momento especial e intenso.
Esse contraste é deliberado. É como um filme que alterna entre cenas lentas e contemplativas e sequências de ação frenética — só que, aqui, o jogador é quem decide quanto tempo passar em cada estado.
3.2 Portais para intensidade
Em jogos como Pikmin 4, as “portas” para os desafios — cavernas e arenas Dandori — marcam claramente a transição entre o ambiente calmo e o teste real de habilidade.
Em Donkey Kong Bananza, as fases bônus cumprem o mesmo papel, assim como os Shrines de Breath of the Wild. O jogador pode ignorar esses portais temporariamente, explorando o mundo no próprio ritmo, ou decidir enfrentá-los imediatamente.
Essa escolha dá controle narrativo e emocional ao jogador. Não é o jogo que impõe o momento da tensão — é o próprio jogador que define quando quer “elevar a temperatura”.
Mapa Conceitual de Ritmo nos Jogos Recentes — picos e vales de intensidade
Gráfico ilustrado 16:9 com quatro curvas (BOTW, Odyssey, Pikmin 4, Donkey Kong Bananza) mostrando alternância entre calma e desafio; ícones marcam picos (shrine, lua, caverna, banana)
3.3 Comparação com outros estúdios
É aqui que a filosofia da Nintendo se diferencia de empresas como FromSoftware (criadora de Elden Ring e Dark Souls) e Ubisoft (séries Assassin’s Creed e Far Cry).
Nos jogos da FromSoftware, a hostilidade é quase constante. O mundo é belo, mas também perigoso a cada esquina — a contemplação existe, mas está sempre sob a sombra da ameaça.
Nos títulos de mundo aberto da Ubisoft, o mapa está repleto de pontos de interesse que funcionam como uma checklist mecânica, não como oportunidades orgânicas de curiosidade e descoberta.
Já a Nintendo adota um ritmo mais orgânico e fluido: o mapa não é uma lista de tarefas, e os encontros com desafios funcionam como pequenas aventuras opcionais, não como obrigações que “limpam” a tela.
3.4 Impacto na experiência do jogador
Esse controle de ritmo resulta em algo raro: o jogador não sente pressa nem pressão para “finalizar” o jogo rapidamente. Ao contrário, ele se sente convidado a passar mais tempo explorando, testando interações e criando suas próprias histórias dentro daquele mundo.
Essa sensação é tão forte que, muitas vezes, o ato de jogar é mais importante do que “terminar” — e isso muda completamente a relação do público com o game.
4. O Parque de Diversões de Miyamoto
Shigeru Miyamoto nunca foi apenas um desenvolvedor de jogos — ele sempre foi um arquiteto de experiências. Antes de entrar para a Nintendo, seu trabalho como designer de brinquedos moldou sua visão sobre como as pessoas interagem com objetos lúdicos. Essa bagagem influenciou diretamente seu pensamento sobre videogames.
Em entrevistas, Miyamoto frequentemente comparou o mundo de um jogo a um parque de diversões. O objetivo não é apenas levar o visitante de uma atração a outra, mas criar um espaço vibrante, cheio de pequenos momentos de descoberta, onde a diversão não está limitada a uma única “rota principal”.
4.1 O conceito de Hakoniwa
O termo japonês Hakoniwa significa “jardim dentro de uma caixa” e descreve a ideia de criar um mundo em miniatura, vibrante e interativo, onde cada elemento convida à exploração.
Miyamoto aplicou esse conceito em The Legend of Zelda: Ocarina of Time e, décadas depois, ele ressurge com força total em Breath of the Wild, Super Mario Odyssey e, mais recentemente, Donkey Kong Bananza.
Nessa lógica, o “parque” é a área aberta — seja um mapa inteiro ou uma fase ampla —, e as “atrações” são os desafios concentrados, como shrines, cavernas ou fases bônus.
4.2 Liberdade para “brincar”
O ponto central dessa filosofia é que o jogador não precisa seguir um roteiro rígido. Ele pode decidir brincar de formas não previstas pelo objetivo principal do jogo — subir numa montanha só para apreciar a vista, tentar chegar a um ponto aparentemente inacessível ou interagir com elementos do cenário apenas por curiosidade.
Em Odyssey, por exemplo, o simples ato de usar Cappy para fazer acrobacias já é divertido por si só, mesmo que não leve a uma recompensa direta. Em Bananza, destruir partes do cenário “apenas para ver o que acontece” pode revelar surpresas ou colecionáveis ocultos.
4.3 O parque como mundo seguro
No design clássico de jogos, a maior parte do tempo do jogador era passada em “fases” — espaços desafiadores e lineares, com obstáculos a cada passo. O “mapa” ou “overworld” servia apenas como um hub para escolher fases.
Na nova abordagem, isso se inverte: o mundo aberto ou fase aberta é o espaço principal, e os desafios são inseridos como experiências curtas dentro dele. É como andar por um parque real: você explora, conversa com NPCs, observa detalhes e, quando quiser mais emoção, entra numa “atração”.
4.4 Exemplos fora do óbvio
Essa lógica não se limita a Zelda, Mario, Pikmin ou Donkey Kong. Até franquias como Splatoon e Mario Kart flertam com a ideia.
Em Splatoon 3, o modo história apresenta pequenas áreas abertas que servem como hub para fases mais lineares, sugerindo que um futuro Splatoon 4 poderia expandir isso.
Em Mario Kart Tour ou no modo livre de Mario Kart 8 Deluxe, a exploração livre dos circuitos se aproxima dessa ideia — embora ainda sem uma narrativa que dê propósito a essa liberdade.
Essa visão de “parque de diversões digital” não é apenas uma metáfora bonita. Ela é um modelo de design que a Nintendo parece estar aplicando de forma consciente em seus jogos recentes, resgatando e expandindo o espírito que Miyamoto tentou implementar desde os anos 80.
Galeria de Referências Visuais: Portais para Desafios — Shrines, Cavernas e Bônus
Três “portas” de desafio: shrine inspirado em Zelda (esq.), caverna de Pikmin (centro) e porta bônus de Donkey Kong Bananza (dir.); sem texto sobreposto.
5. Influência no Mercado e Outras Franquias
Quando The Legend of Zelda: Breath of the Wild chegou ao mercado em 2017, ele não apenas redefiniu a série Zelda — ele redefiniu a forma como o público e a indústria enxergavam o potencial de um mundo aberto. A Nintendo conseguiu algo raro: criar um jogo que, ao mesmo tempo, atendia jogadores casuais e veteranos, mantendo um alto nível de qualidade artística e mecânica.
Nos anos seguintes, diversos títulos começaram a adotar elementos dessa filosofia — mesmo que de forma parcial ou adaptada ao seu próprio contexto. Isso mostra que a tal “nova escola Nintendo” não está restrita a um gênero, mas sim a um conjunto de princípios de design replicáveis.
5.1 Jogos fora da Nintendo que adotam elementos semelhantes
Genshin Impact (miHoYo) – Apesar de seguir um modelo de monetização completamente diferente, a estrutura de mundo aberto, as recompensas por curiosidade e o ritmo controlado lembram claramente Breath of the Wild.
Kena: Bridge of Spirits (Ember Lab) – Combina áreas abertas tranquilas com desafios pontuais, usando a exploração como parte essencial da progressão.
Immortals Fenyx Rising (Ubisoft) – É praticamente uma carta de amor a BOTW, com um sistema de shrines, puzzles ambientais e exploração livre.
Pokémon Legends: Arceus (Game Freak) – Embora seja uma franquia da Nintendo, o jogo é desenvolvido pela Game Freak e traz uma clara inspiração na estrutura de áreas abertas com objetivos espalhados.
5.2 Franquias da própria Nintendo que podem adotar a fórmula
Algumas séries já dão sinais de que poderiam seguir essa filosofia com sucesso:
Star Fox – Imagine um universo aberto, onde a área pacífica é o espaço interestelar, e os “portais” para desafios são planetas ou missões específicas.
Fire Emblem – Uma área central para explorar o quartel, recrutar personagens e participar de eventos, intercalando com batalhas estratégicas intensas.
Pokémon – Após Legends: Arceus, é fácil imaginar um título principal com áreas abertas interconectadas e desafios opcionais mais elaborados.
Splatoon 4 – Expandir o hub de exploração para algo mais interativo e vivo, tornando-o parte integral da campanha.
5.3 Riscos dessa expansão
Por mais sedutora que seja a ideia, ela traz riscos:
Desgaste da fórmula – Assim como aconteceu com o formato de “mundo aberto com torres” da Ubisoft, a repetição excessiva pode desgastar o público.
Incompatibilidade temática – Franquias como Metroid, com sua atmosfera opressiva e estrutura fechada, podem perder identidade se tentarem se encaixar nessa filosofia.
Perda do desafio tradicional – A liberdade extrema pode reduzir a sensação de conquista para jogadores que preferem percursos mais lineares e desafiadores.
5.4 Potencial de longo prazo
Se aplicada com cuidado, essa abordagem pode prolongar a vida útil de várias franquias, permitindo que cada uma mantenha sua essência enquanto oferece ao jogador mais agência. A chave estará em adaptar o conceito à narrativa e ao gênero, e não simplesmente copiar a estrutura.
Infográfico de Influência: Mapa de Influências — Escola Nintendo
Diagrama 1:1 (podemos exportar em 16:9 se preferir) conectando o hub “Nova Escola Nintendo” a BOTW, Odyssey, Pikmin 4 e Donkey Kong Bananza, e mapeando influências em Genshin Impact, Immortals Fenyx Rising e Kena; setas rotuladas (“liberdade”, “portais de desafio”).
6. Filosofia de Acessibilidade e Inclusão
Se há algo que diferencia a Nintendo de muitos outros estúdios, é sua insistência em criar experiências que possam ser apreciadas por públicos extremamente diversos — de crianças que estão jogando pela primeira vez até veteranos com décadas de experiência.
A “nova escola” de game design que vemos em títulos como Breath of the Wild, Super Mario Odyssey e Pikmin 4 é, ao mesmo tempo, um avanço criativo e uma resposta a um problema antigo: como permitir que todos cheguem ao final do jogo sem comprometer o desafio para quem busca algo mais intenso.
6.1 A superação das barreiras de habilidade
Historicamente, videogames sempre exigiram certo nível de habilidade para serem concluídos. Um jogador que não conseguisse dominar as mecânicas dificilmente veria o final da história. A Nintendo começou a questionar isso já na era Wii, quando atraiu um grande público de não-jogadores.
Para contornar o problema:
Em New Super Mario Bros. Wii, a função Super Guide permitia que o Luigi completasse uma fase para o jogador que estivesse preso.
Em Super Mario 3D Land e 3D World, o “Tanuki Branco” tornava o personagem invencível após repetidas mortes.
Essas soluções foram protótipos do que vemos hoje: mundos e fases abertas, nas quais o simples ato de explorar já é divertido e não depende de passar por barreiras técnicas.
6.2 Dificuldade modular e autoimposta
Nos jogos mais recentes, a Nintendo evita sistemas de seleção de dificuldade tradicionais. Em vez disso, ela permite que o próprio jogador module o desafio:
Em Breath of the Wild, ignorar upgrades de coração ou equipamentos facilita a busca por um desafio extra.
Em Donkey Kong Bananza, evitar melhorias opcionais deixa o jogo mais punitivo.
Isso significa que um iniciante pode terminar a aventura sem frustrações, enquanto um veterano pode se desafiar por escolha própria.
6.3 Inclusão emocional e narrativa
Essa abordagem não é apenas mecânica — ela também é emocional. Jogadores que completam um jogo sem precisar recorrer a “modo fácil” explícito sentem que participaram de uma experiência legítima. Por outro lado, ninguém é excluído do conteúdo por causa de limitações técnicas ou motoras.
6.4 A diferença para outros estúdios
Muitos desenvolvedores tentam resolver a acessibilidade simplificando o jogo como um todo, o que inevitavelmente afasta os fãs mais dedicados. A Nintendo, ao separar momentos de calma (mundo aberto/fase aberta) e momentos de intensidade (desafios pontuais), mantém ambos os públicos engajados sem sacrificar a identidade do título.
7. Exemplos Práticos e Mecânicas em Detalhe
Uma das forças da chamada “nova escola” Nintendo é que ela não se limita a conceitos abstratos de design — ela se manifesta de forma tangível, repetida e consistente em mecânicas que o jogador vivencia a cada partida.
Esses elementos, muitas vezes discretos, funcionam como motores invisíveis que mantêm a curiosidade e a vontade de explorar.
7.1 Os Koroks de Breath of the Wild
Talvez o exemplo mais famoso sejam os Koroks, pequenas criaturas escondidas em todo o mundo de Breath of the Wild e Tears of the Kingdom. Encontrar um Korok nunca exige combate intenso — geralmente, é uma questão de observação, lógica simples ou pura experimentação.
O detalhe interessante é que a recompensa final por encontrar todos é propositalmente “inútil” (um cocô dourado), reforçando a ideia de que o verdadeiro prêmio está na própria jornada e na satisfação de ter descoberto o segredo.
7.2 Luas escondidas de Super Mario Odyssey
Em Odyssey, as luas funcionam como miniobjetivos espalhados por fases amplas, muitas vezes sem ligação direta com a progressão principal.
A Nintendo insere dezenas delas em locais improváveis, incentivando o jogador a tentar movimentos acrobáticos, explorar ângulos incomuns e usar a física do jogo de maneiras não óbvias.
É como se os desenvolvedores tivessem deixado pistas para os jogadores mais curiosos: “sabíamos que você tentaria isso”.
Destaque de Mecânicas - Práticas: Microobjetivos que Recompensam a Curiosidade — Koroks, Luas, Digletts e Segredos
Colagem horizontal 16:9 em 2×2 com quatro cenas estilizadas: Korok em puzzle simples, Power Moon em penhasco, trio de Digletts emergindo do solo e moeda/banana oculta atrás de parede rachada
7.3 Segredos destrutíveis em Donkey Kong Bananza
Seguindo a tradição de recompensar a curiosidade, Bananza oferece prêmios por interações aparentemente irrelevantes, como destruir partes do cenário ou explorar cantos que, à primeira vista, não parecem levar a lugar algum.
Esses momentos reforçam a sensação de cumplicidade entre jogador e desenvolvedor.
7.4 Os Digletts de Pokémon Sword and Shield
Mesmo fora das franquias diretamente ligadas a Miyamoto, vemos a aplicação dessa lógica. Na DLC Isle of Armor, o jogador é incentivado a encontrar Digletts escondidos no cenário — uma mecânica que ecoa diretamente a filosofia dos Koroks.
O objetivo não é apenas colecionar, mas também dar propósito à exploração livre.
7.5 Recompensas improvisadas
Outro detalhe recorrente é a inclusão de micro-recompensas em locais de difícil acesso que não estão conectados a missões. Uma pilha de moedas em um penhasco, um baú escondido atrás de uma cachoeira, um item cosmético raro — tudo isso estimula o jogador a testar os limites do ambiente.
Essa constelação de pequenas mecânicas forma a base prática da “nova escola” Nintendo: curiosidade recompensada, liberdade real e valorização da criatividade do jogador.
8. Origem — não é tão nova assim
Quando falamos em “nova escola Nintendo de game design”, é fácil imaginar que este seja um conceito recente, nascido na era do Nintendo Switch. Mas, ao analisarmos entrevistas e declarações de Shigeru Miyamoto ao longo de sua carreira, percebemos que essa filosofia está longe de ser nova.
Na realidade, ela é a materialização de um ideal concebido décadas atrás — e que só agora, graças à evolução tecnológica, pôde ser plenamente executado.
8.1 O desejo de liberdade desde o início
Em uma entrevista de 1989, Miyamoto já afirmava que não queria criar jogos em que o jogador fosse “apenas um fantoche nas mãos do criador”. Para ele, o videogame deveria funcionar como um brinquedo interativo, permitindo ao jogador explorar e brincar livremente, sem seguir um roteiro rígido.
Essa mentalidade já se refletia no primeiro The Legend of Zelda (1986), que para a época era revolucionário: um mundo aberto (dentro das limitações técnicas) com múltiplos caminhos possíveis e liberdade para enfrentar as masmorras em diferentes ordens.
8.2 O conceito de “jardim na caixa”
Durante o desenvolvimento de Ocarina of Time, Miyamoto descreveu seu objetivo como criar um mundo vibrante e convincente, comparando-o a um parque de diversões ou a um Hakoniwa — um “jardim na caixa” no qual o jogador pudesse circular livremente, explorando à vontade antes de entrar nas “atrações” (dungeons e desafios).
Esse conceito é praticamente idêntico ao que vemos hoje em Breath of the Wild, Odyssey e outros jogos dessa suposta “nova escola”.
Box-Quote — “Jardim numa caixa” e parque de diversões
Card horizontal 16:9 com citação parafraseada de Shigeru Miyamoto sobre Hakoniwa e “parque de diversões digital”; tipografia legível, destaque em cor para “jardim numa caixa”.
8.3 O que mudou: tecnologia e maturidade
Na época do NES, SNES e até do Nintendo 64, criar mundos grandes, detalhados e interativos era limitado pelo hardware. As ideias de Miyamoto precisavam ser condensadas em fases lineares, hubs simples e estruturas de progressão mais rígidas.
Hoje, com a capacidade do Switch (e ainda mais com o Switch 2 no horizonte), é possível oferecer:
Mundos amplos e ricos em detalhes.
Interações ambientais complexas.
Recompensas espalhadas de forma orgânica.
Sistemas de física e inteligência artificial que incentivam a experimentação.
8.4 A passagem de tocha
Outro ponto importante é que Miyamoto não está mais diretamente envolvido na direção de todos os grandes títulos. Em vez disso, seus “discípulos” e equipes internas da Nintendo aplicam e expandem esses princípios em novas franquias e gêneros, mantendo a essência, mas adaptando-a a contextos variados.
Isso explica por que Donkey Kong Bananza, Pikmin 4 e até Mario Kart Tour apresentam traços claros dessa filosofia — não é uma coincidência, mas uma continuidade.
Parque de Diversões Digital — um passeio pela “Nova Escola”
Ilustração horizontal 16:9 de um parque conceitual ao pôr do sol, com referências sutis: arco místico ao centro (Zelda), canos-planta e cogumelo à esquerda (Mario) e portal de madeira “Bananas” com trilhos à direita (Donkey Kong)
9. Conclusão — O Futuro da Nova Escola Nintendo
O que muitos chamam de “nova escola Nintendo de game design” é, na verdade, a consolidação de uma visão que Shigeru Miyamoto já defendia há mais de 30 anos: a de que jogos devem funcionar como brinquedos interativos, espaços de liberdade e experimentação, e não apenas como sequências de desafios lineares.
A diferença é que, agora, as condições tecnológicas e criativas permitem aplicar essa filosofia de forma plena. O resultado são jogos que:
Valorizam a liberdade de exploração.
Recompensam a curiosidade com microobjetivos e descobertas orgânicas.
Alternam entre momentos de calma e picos de desafio, permitindo ao jogador controlar o próprio ritmo.
Eliminam barreiras que impediriam diferentes perfis de público de aproveitar a experiência.
9.1 O que esperar no Switch 2
Com o próximo console da Nintendo no horizonte, é plausível imaginar que essa filosofia será expandida. Títulos como Donkey Kong Bananza e Mario Kart World já mostram que a fórmula pode se adaptar a gêneros variados.
Podemos especular que franquias como Star Fox, Fire Emblem e Pokémon receberão interpretações dentro desse modelo, desde que suas identidades não sejam comprometidas.
9.2 O risco do desgaste
Nenhuma fórmula é infalível. Assim como o “mundo aberto com torres” da Ubisoft se tornou previsível, a repetição excessiva dessa abordagem pode gerar fadiga no público.
A chave para o sucesso será variar o tempero sem perder a essência — aplicar o conceito de liberdade e exploração de formas novas, não apenas repetindo padrões já estabelecidos.
9.3 O equilíbrio entre tradição e reinvenção
A Nintendo sempre se destacou por respeitar seu legado e, ao mesmo tempo, reinventar suas franquias. Essa “nova escola” não é ruptura, mas sim evolução. Ela preserva a magia dos clássicos, adaptando-a a um público mais amplo e a um cenário competitivo cada vez mais diversificado.
Seja qual for o nome que o mercado adote para esse estilo, o importante é reconhecer que estamos vivendo uma era em que a filosofia original de Miyamoto finalmente alcançou todo o seu potencial — e isso, por si só, já é histórico.
Créditos
Este artigo opinativo e analítico do ProGameMundo foi inspirado no vídeo do canal Coelho no Japão — Nintendo mudou? A nova escola de game design (YouTube). Todo o mérito pelas ideias originais vai ao autor do vídeo; esta é uma releitura expandida e comentada com base no conteúdo apresentado.
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https://www.progamemundo.com/lancamentos-de-julho-2025-donkey-kong-bananza-tony-hawk-remaster-destiny-2-e-mais
Referências
Coelho no Japão – Nintendo mudou? A nova escola de game design (YouTube). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=LOjvpuBiIPA
Entrevista com Shigeru Miyamoto – Game Designers on Game Design (1989). Disponível em: https://www.nintendo.co.jp/n10/interview/miyamoto1989
Entrevista sobre Ocarina of Time – Discussão do conceito “Hakoniwa”. Disponível em: https://www.nintendo.com/ocarina-of-time/developer-interviews
Página oficial de The Legend of Zelda: Breath of the Wild – Nintendo. Disponível em: https://www.zelda.com/breath-of-the-wild/
Página oficial de Super Mario Odyssey – Nintendo. Disponível em: https://supermario.nintendo.com/
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